sábado, 28 de novembro de 2009

Detenho-me no limiar do grito...


( O grito munch)

...como sempre, quando encontro palavras saídas da tua boca, escrevo...e os teus lábios estão aí, húmidos, possíveis...a tua boca suplica que te beije mas os teus olhos continuam impassíveis, com esta distância onde o teu corpo se estende...detenho-me no limiar do grito e gostava de te dizer AMO-TE com as mais audíveis sílabas do silêncio...depois toco o teu corpo e consigo conversar com as tuas mãos...tomo-as nas minhas e no momento preciso em que, ajustado à minha mão e por seu lume tocado, o teu fruto amadurece e endurece...são as tuas mãos mais tarde que sabem o lugar exacto onde o meu sexo se abre e é possível saborear o seu sumo...perdem-se aí...são pacientes as tuas mãos...mãos de fascínios que retardam o meu fruir...usando os caracteres do desejo, do meu desejo, deito-me sobre a tua pele e...faço amor contigo até ao cansaço final...

...sabes...o sonho cansa!!!...um cansaço que dói por dentro de nós...fechamo-nos na memória e conhecemo-nos do sonho ou da espera...

Tiempo Difícil...





"Nos tocó un tiempo difícil de cuestiones, de pocas reflexiones

Donde ciertas decisiones nada tienen que ver com las razones
Nos tocó un tiempo difícil, pero estamos en este viaje
y yay que armarmos de paciencia, yay que armarmos de corage
para poder resistir, el embate de existir(...)
Este tiempo necesita nuestra mano,
se procurarmos juntos lo haremos mais temprano"
 ( Júlio César Barbosa, "Este tiempo", Barcelona 2001)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Meu Caminho...





O meu caminho não é de relva suave, é um trilho de montanha pejado de muitas pedras…no entanto persisto, agarro, aguento…

As tempestades fazem os carvalhos lançar raízes mais fundas!
E há sempre um rio que nasce perto dos lábios de quem alimenta a sede e sabe usar o que tem para aprender ….
Às vezes, parece que as palavras não são suficientes e os nossos desejos e anseios não chegam e espalham-se pela brisa, nos imensos dias que levam ao conhecimento…
No entanto, saberei sempre, que o despertar do horizonte começou no exacto momento em que, de madrugada em madrugada, fui transformando, criando, esculpindo aquilo que será a minha próxima Estação…
E então, antes que a memória apague e esconda a inquietação de quem viveu tantas vezes de alegrias e tristezas…quando o frio devassar, muitas vezes sem explicação, impacientando os desgostos de Inverno, procurando os indícios de infância…
Possa lembrar-me, em matinais silêncios e mesmo que fatigada pela travessia dos dias, a nesga de cor, o rubor das flores, o improviso da paisagem, as palavras intranquilas e a força de vontade que me foi deslumbrando os olhares….
Acredito que mesmo correndo riscos, ao seguir certos caminhos abandonando outros, sem medos mas com determinação, lembrar-me-ei sempre que a montanha será fácil de subir se acreditar em mim e naquilo que sou capaz de realizar…

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Teremos todo o tempo do mundo...








Como barco, onda, utopia, nuvem, mar…

Sítios onde me perco e procuro...


Tudo parece simples
Porque as palavras se despem e
Vestem as frases que escrevo no poema…


Ainda hoje não sei porque é preciso explicar tudo….
Não sei porque vejo os dias sentados na praia à minha espera…
Acreditando no fascínio das ondas…
Iludidos…


E sabes?


Nunca me perdi na rua como no tempo…
Nunca me perdi no tempo como nos instantes…
E nunca o acaso me olhou da praia e desejou…
Que eu fosse além do destino profundo da espuma leve…


Depois…


Todos os rios conhecidos moram aqui...
Na fonte dos caminhos... no teu peito...
Não te digo hoje....
Não te digo amanhã....
Porque do tempo
Tenho apenas a leitura das palavras
e...em cada letra uma espiga só
E em cada poema
A demora das searas....
.....

Nunca me perdi na rua como no tempo…
Nunca me perdi no tempo como nos instantes…
Por isso procura-me quando a lua nascer...
Terei a voz mais submissa e serei escrava....
E…Quando te cansares…
Com as minhas mãos acordarei
O que em ti se deixou adormecer...
....

Teremos todo o tempo
Do mundo
Para clarear os deslumbramentos
E arranjar os prodígios
E serenarmos
Os princípios da tempestade...

domingo, 22 de novembro de 2009

O Olhar...







O mistério é o olhar e não os olhos...
num olhar alguém mostra o que é e por isso pode ser para nós intolerável...
é uma sensação de abismo...
talvez realmente seja mais importante fechar os olhos ...
sentir o outro através da lua, do silêncio e da escuridão...
porque a luz, efectivamente, pode ser a destruição!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O sol a morrer..ou a nascer...





O sol a acender-se com perguntas que provocam perguntas...
E as mãos atadas diante do rosto...
A fuga ao silêncio a perder-se em palavras na "morte do dia"...
Reconhece-se então aquele que se afogou em sonhos e se desfez em palavras...


Gosto bastante da imagem do sol mas...é sempre tempo de acabar com a morte do dia se pensarmos que nascerá um novo dia??!!
"E quando para mim olhares...Sim."
...a vida estará sempre cheia de logros, de desafios. É melhor admiti-lo e decidir ser feliz agora, de todas as formas.Não há um truque, nem um caminho para a felicidade, por isso aproveita bem, por tê-lo partilhado com alguém especial...tão especial que te leva no coração.
Depois...recorda que a felicidade é um trajecto não é um destino e então, para que haja um desejo de libertação, ama como se nunca te tivessem magoado e dança como se ninguém te estivesse a ver...



As margens do sonho...







Tenho, por vezes,

Um desejo escondido...
Uma brasa dormente...
Muitas vezes confusão,
Guardada com certo cuidado!
O meu jeito de fazer
As coisas...
(Muitas vezes às avessas)
Que leva à estranheza,
Às vezes mesmo absurda
...
A palavra...
O meu grito por vezes assustado
E tantas vezes transformado…
Sentir a cor dos regressos e das ausências...
Do tempo e das sombras...
Viver nas margens do sonho, dourados prodígios
que seguram as palavras
onde quando sentimos,
naufragamos...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Açoriana





                                                       Ilha do Pico vista da ilha de S. Jorge




És ilha de um arquipélago atlântico,

Levedando o magma de um vulcão adormecido.
Tens erupções de palavras, por vezes
Abruptas e luminosas.
Outras vezes, suaves, emergem e deslizam;
Lentamente descem encostas a poente.


No limiar da lava, fervilha o mar,
Onde também se insinua
A erva doce, a flor do salgueiro, o vinho de cheiro.
Assim também, imprevisível, nos visitas;
Com teus poemas, ora inflamados ora serenos.


Mas sempre estás contemplando
A vastidão do mar e dos amigos
À janela do teu sorriso, à varanda do teu querer,
Na amurada do tumulto, azul profundo.
               de ZT

(Obrigado por saberes descrever tanto de mim...obrigada pela amizade!)
              

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Palavras que desconhecemos...





...pensamos muitas vezes com palavras que desconhecemos...a doçura do Amor...o fio do abismo...o fascínio que ultrapassa as coisas...é no fio do abismo que tudo se torna mágico e o fascínio pelas coisas cresce...depois só queria apagar-me no teu peito, suavemente...enquanto nos teus olhos vejo e sinto a tua respiração, numa solidão que é absurda...e sabes??!! Somente a memória permanece, para que cada carícia possa sempre ser outra....

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A tristeza...






Tantos dias...tantas noites...a  tristeza é para mim uma coluna em chamas que passa pela minha cabeça, esmaga-me o coração, crispa-me o olhar...é ausência absoluta...é uma ânsia?!!...
...a tristeza vai avançando devagar sobre as arestas do meu mundo e torna-se tristeza de todos os lugares, de todas as coisas, de todos os olhares...
depois... as palavras avançam para os nossos rostos e dilaceram as dúvidas mais íntimas, num murmúrio de desolação...é a realidade que me dói...
as palavras não saem mas avançam e como essência, alastram e explodem na boca, nos sentidos...
a realidade dizima-me... dizima-te e arrasa com a quotidiana esperança das coisas que queríamos que fossem metamorfoses...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Submisso instante...








Entre a sombra e a noite

Há um submisso instante...
E nessa hora vive-se devagar
Olhando o mar...
Depois...
Existe uma solidão
Que é feita da intensidade
Dos sentidos...
De presenças frágeis...
Mas que é intocável
Porque é só nossa...
...

Talvez um dia possa habitar na sombra
Onde te hei-de procurar...
Encontrando talvez nas tuas mãos
O submisso instante,
Onde o percurso, recto ou sinuoso,
Fará o trilho do tempo ao coração...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Precaridade...





Não espero nada e desde que o resolvi, ganhei tranquilidade….depois há esta dor de todas as ruas vazias…caminho na língua aguçada deste silêncio… na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo….sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e às vezes de acabar comigo mesmo… mas gosto da noite…gosto do deserto, e do acaso da vida…. gosto dos enganos, da sorte e dos encontros inesperados….onde o medo tem a precariedade de outro corpo...depois...

A maior perda da vida é o que morre dentro de nos enquanto vivemos (Norman Cuisins)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

...nunca nos darmos por vencidos...





Talvez... porque afinal o que nos sustenta é a consciência que temos, mesmo podendo ser tudo falso o que considerávamos perpétuo nas nossas certezas e definições, nunca nos darmos por vencidos…
e acabar com as certezas não quebra, porque a estabilidade vem de dentro e não de fora…

Depois... e porque pouco importa as direcções e as distâncias…

Só quero ser a tua nuvem para te abraçar na neblina…
e na ilha das tuas raízes…das raízes dos teus sonhos…
onde se junta a água com a rocha…
ser impossível esconder que estivemos juntos
nos horizontes perdidos deste mar…
através do aconchego das águas espelhadas…
onde a nossa vontade foi uma presença de margens inventadas…
onde podemos voltar sempre…sem medo de nos perdermos um ao outro…



domingo, 8 de novembro de 2009

Há noites...



Há noites em que morremos de tristeza,

À espera que uma estrela nos rebente no olhar...
Como quem olha pela última vez o destino
Das sombras, a noite vem, lentamente,
Retomando aromas e sons
Que a claridade do dia já não quis...
É então que ressaltam emoções, desordenadamente guardadas no peito
E os pássaros voam quase loucos,
À procura do sol...
Não vieste esta noite...
Nem houve estrelas...nem houve aromas...
Somente a tristeza permaneceu na espera do meu olhar!!...

O momento...





Na estrada que podia ser esta …deixamos crescer as palavras e os rios...pressentimos a febre deste novo encontro e depois...olhamo-nos nos olhos e estávamos disponíveis para o fogo mas também para as lágrimas... ateando os dias e acordando os longes... Pelo corpo quisemos ir atrás da luz que descia sobre o coração das palavras que não eram precisas serem ditas...
...foi bom beber o sabor do amor na tua boca e entre as minhas mãos as tuas mãos aconchegavam-me e na pele suada escrevia as letras do assombro...a boca sobre a boca, o fogo, o grito, a dádiva do corpo...
...sei que estaremos sempre prontos para o reencontro e reinventaremos o Amor "com carácter de urgência" para que o momento da espera, a memória o preserve e guarde quente e doce o sabor do mel que demos hoje um ao outro...


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Amor...ou o sonho das nossas raízes!!



Mais do que um sonho sonhado...

que uma mão estendida para embalar...
mais do que sonhar os mesmos sonhos
ou doer as mesmas dores...
muito mais do que o silêncio que fala enquanto adormecemos...
ou da voz que cala, para ouvir...
é o Amor o alimento
que nos sacia a alma e nos faz gostar do respirar do outro
enquanto dorme...
Depois...só se consegue adormecer, abandonado, ao lado de alguém em
quem acreditamos porque há confiança... e podemos sonhar!!!




quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ama-me...



... escrevo e as palavras parecem ausentes do tempo que as trouxe...há um espaço por ocupar entre o que penso e o que digo...a cumplicidade dos silêncios muitas vezes é mais tangível e absoluta que as palavras que se usam e se escrevem... as palavras fogem às exigências dos sentidos e muitas vezes não consigo comandá-las e hesito, tropeçando nos degraus que as habitam... será que tu virás quando te chamar?!...o olhar sobre o olhar, depois as mãos... ama-me agora mais do que nunca, para que nada mais caiba entre nós que este afundar, este amansar dos rios a que nos entregamos... ama-me, na solidão, mais do que nunca, para que tudo se incendeie um dia novamente e haja uma janela aberta com um ramo de flores, à espera de ser por nós reinventado...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Neblina...



Com a boca encostada à areia da praia
respiro o odor da nostalgia que esta neblina me traz...

As gaivotas despenham-se sobre o mar
e no indefinido adeus, trazem a vertigem do silêncio...
Será que também trazem o desejo?!
As mãos estendidas, abertas, pedem o fascínios dos dias sem dúvidas...
Afinal na vida o que importa é partir, não é chegar...
Aprenderemos a caminhar sem esperar alcançar a chegada ...
O romance da viagem é na realidade o que mais interessa e o que mais desperta a criatividade e não o destino da viagem...
Depois..
No meu caminho

um vislumbre de sol e de carinho…
uma sombra transformada em neblina...
No entanto "feliz nos sucessivos luares primaveris(...) a escrita faz-se"...
e, por vezes, a vida inteira para dizer uma palavra!!!!
...também porque estamos condenados a pensar com palavras, a sentir com palavras... porque escrever é, pois, fundamentalmente, tentar esclarecer e fixar uma inquietação....
"felizes os que chegam a dizer uma palavra!" (Virgílio Ferreira)