quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Junto ao mar as recordações esfiam-se...




Junto ao mar
Adormecem agora, entre as sombras
Dos rochedos,
As recordações que se esfiam
E que o coração em si reteve...
Da solidão as arestas duma lágrima...

Reaprendo a trama, afagando a luz
Nas enleadas águas que entre as mão me doem...
...
Por caminhos (tão diferentes de outros) tu vieste
E trazias-me em ti
Todos os fios de água que a terra te doara...
Vinhas talvez à procura de um rio
Onde escreveres a cor dos teus regressos e ausências
Que ao longo do tempo proclamavam
Vidros de lágrimas pintados de revolta...
...
Tomei-te pela boca...pela nascente dos teus rios...
Já não sei da luz que me trazias:
Eram talvez as mãos que sôfregas procuravam
Os pontos dourados dos prodígios...
...
Nas clareiras abertas dos nossos corpos nus
Construímos portos, plantámos flores...
Mais rubras que o coração ousou...
Com as tuas mãos abertas
Recolheste a luz e a palavra
Falando do sentido dos dias que viriam...
Com os olhares relembro
O teu corpo sobre o meu...
O redobrar das águas...
O assombro gritante do mar...
...
Depois segurei entre as minhas margens
As tuas margens
E mil vezes naufraguei, colhi despojos, mas...
Sempre um longe me sobrou
E...não bastam as palavras
Porque os seus usos vários já se gastaram...
...
Sobre o meu ventre nu
As tuas mãos exilam
E correm rios dourados de prodígios...
Vogam agora ao acaso dum som,
Duma emoção que os transcende...
...
Os pensamentos doem bem mais que as feridas...
Aos pássaros que adormeceram nos teus olhos
Perguntarei pelos teus voos
E dos rios, um dia, beberei
A água das lembranças...
...
Sobra sempre uma palavra transparente
Para recolher o fruto e segurar um novo dia
num murmúrio cansado de esperar...

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